O livro traz a estória de uma família de imigrantes portugueses, dos pais aos filhos que viram pais. Passeia pelos casais, tios, sogro e sogra, netos, erros e acertos.
É tão sensível e bonito que chega a ser difícil de descrever. Para
explicar a beleza do "Arroz" só transcrevendo trechos de Francisco
Azevedo que me encheram os olhos d'água logo no primeiro capítulo:
“O pior é que ainda tem gente que
acredita na receita da família perfeita. Bobagem.... Família é afinidade, é a
Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.... Enfim
receita de família não se copia, se inventa..... Família é prato que, quando se
acaba, nunca mais se repete.”
Fatos inevitáveis da vida são contados de forma delicada e
poética, mesmo aqueles difíceis de viver, de testemunhar ou de descrever como o envelhecer, que na maioria das vezes não
é alcançado por quem ainda não chegou lá.
“Velho sente saudade de pai e mãe. Tudo faz tanto tempo! Velho quer colo, quer colher na boca vinda de aviãozinho, quer – banho tomado – que o ponham na cama, o aconcheguem com lençol limpo e travesseiro macio. Uma história conhecida, uma cantiga de ninar, um beijo de boa-noite. A porta do quarto um pouquinho aberta, com a luz do corredor acesa – o ponto de referencia é sempre bom. Velho sente falta da instancia superior. Quem o julgará com isenção e sabedoria? Quem, melhor que ele, saberá , imparcial, examinar o mérito da questão? Velho é criança de fôlego diferente. Já não lhe interessam as correrias nos jardins, o sobe e desce das gangorras, vaivém dos balanços. É tudo muito pouco. O que ele quer agora é desembestar no céu, soltar os bichos que colecionou a vida inteira. Os bichos todos – domésticos, selvagens, úteis e nocivos. Os pesados répteis que ainda guarda no coração e as borboletas, peixes e passarinhos, tudo solto lá em cima.”
O livro é daqueles que devem ser degustados e não devorados e
assim fui lendo e relendo diversos trechos, aos poucos, saboreando as páginas,
me deleitando com a magia do arroz.
Não se prive destas emoções.
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