quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mulheres, Seres em Constante Manutenção

Estou lendo “I Feel Bad About My Neck” (Meu Pescoço é Um Horror).
Um dos tópicos do livro é sobre a nossa constante guerra para ficarmos bem cuidadas, ou seja, sobre os cuidados estéticos básicos que nos deixam, digamos, “limpinhas”.


Até porque se nós, mulheres, deixarmos os cabelos brancos, ou mesmo a raiz do cabelo aparecer um pouquinho além da conta, somos desleixadas, impiedosamente taxadas por nós mesmas, porque enquanto mantivermos o decote ousado o suficiente, os homens jamais notarão a raiz dos nossos cabelos.


Enfim, Nora Ephron me fez pensar em todo tempo e dinheiro que gasto para me manter nos padrões aceitáveis da boa aparência: pelo menos uma hora por semana para fazer pé e mão, meia hora a cada duas ou três semanas para depilar, umas três horas para pintar o cabelo a cada mês e meio (isso porque eu tenho cabelo fino, curto, ralo e que demora a crescer, pensando no aspecto econômico, bem que eu tive sorte!), mais meia hora a cada três meses para cortar o cabelo. E ainda mais tempo em limpeza de pele, fazendo sobrancelha... E olha que eu nem sou tão vaidosa, imagina quem é!


Ah, isso sem contar com cremes, filtro, exercícios, idas ao dermatologista, a esteticista...


Para ser honesta, poupo o tempo e o dinheiro da unha, pois não as faço toda semana, não tenho paciência para ficar uma hora sentada ouvindo aquele papo de salão (novela, casamentos, separações e traições de globais e jogadores de futebol), mas à medida que o tempo passa, a vergonha de estar com as unhas ou a raiz do cabelo por fazer parece aumentar junto com a idade.


Acho uma chatice manter a boa aparência. E uma tortura também.
A primeira vez que me depilei tinha 17 anos. É claro que com essa idade eu já me livrava dos meus pelos com a gillette há muito tempo, mas decidi conhecer o poder da cera. Eu, como tinha sido orientada, deixei meus pelos crescerem para que a cera pudesse pegar, porém, ingenuamente, um pouco além da conta. A esteticista colocou a cera em toda a minha virilha direita de uma só vez, sem dó nem piedade, puxou com toda força. Eu dei um grito e quando percebi tinha sentado na maca de tanta dor. Resultado: fui para casa com um lado depilado e outro não. Só se eu fosse maluca de deixar ela fazer aquilo de novo do outro lado. Que mal eu fiz aquela mulher para ela me tratar assim? Não era esse poder que eu estava esperando. Nunca mais voltei lá e por três anos continuei com a minha fiel amiga e indolor gillette, até que conheci Núbia. Núbia é uma calma e simpática esteticista que me mostrou que a depilação dói, mas é suportável.


Reclamo, acho que as mulheres são escravas, mas é só passar uma mulher com pelos em baixo do braço, cabelos com raízes enormes, unhas mal tratadas e monocelhas que vejo que todo o trabalho, dor, tempo, energia e dinheiro gastos na nossa manutenção são importantes, necessários e fazem toda a diferença. Não temos saída.


Além do mais, tenho que confessar que quando eu saio do salão com as unhas e o cabelos prontos, fora o mau humor de ter ficado três horas sentada com um produto fedorento, que coça e esquenta na cabeça, ao mesmo tempo em que o pé escalda na água e as mãos ficam imóveis com os dedos duros tomadas pelo pavor constante de borrar (sensação esta que dura por pelo menos mais uma hora depois que deixo o salão e que é alimentada por fortes emoções como colocar os sapatos, pegar a carteira na bolsa, pegar o dinheiro na carteira, pegar a chave do carro, colocar o sinto de segurança e dirigir até em casa), quando eu saio do salão estou mais feliz e confiante, pronta para encarar qualquer coisa, até uma reunião de trabalho.
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