sábado, 22 de agosto de 2009

Senado

Na televisão, num certo canal, passa um programa bem brasileiro. Uma espécie de teatro televisionado. Os atores, em momentos críticos são muitos, mas na maioria dos momentos que consideram pouco interessantes e corriqueiros são tão escassos que mais parecem se preparar para um monólogo, porém essas últimas semanas foram críticas, como fim de novela. O cenário estava cheio de atores se revezando ao microfone enlouquecidos, vibrantes, ora trocando elogios, ora trocando farpas. Ali, eles fazem história ou acabam com ela. Refiro-me ao maior palco de todos os tempos: o Senado.

Pela TV Senado o público acompanha a pouca vergonha. Cadê a censura que deixa essas tão indecentes cenas não só irem para o ar, mas acontecerem.

Um ator jogando na cara do outro todos os seus erros, roubos, delitos, ali abertamente, para todo o Brasil, seguros como atores em meio de novela bem aceita pela audiência, mas esses atores não se garantem na audiência, mas sim nas leis.

Eh, as leis. Leis que proporcionam imunidade e que os fazem ser julgados por um conselho de ética formado pelos próprios. Onde já se viu isso? Como o público pode aceitar isso?

E também se garantem num não menos importante fator, o medo. O medo de que toda a podridão venha à tona. É o rabo preso que os torna cúmplices e é a cumplicidade que os torna fortes, imbatíveis.

Nesse programa o que melhor acompanha não é a pipoca, mas a pizza.

Que é um espetáculo ninguém pode negar, um daqueles que não é digno de aplausos, mas de vaias, ovos e tomates (para ser educada).

Resta saber quando o público vai começar a vaiar.

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu Sou da Vila

Era uma vez, um senhor, empreendedor, que viu um grande futuro nas terras de D. Amélia, segunda esposa de D. Pedro I. João Batista Viana Drummond, futuro Barão de Drummond, adquiriu as terras da Quinta dos Macacos, hoje Vila Isabel, após a promulgação da Lei do Ventre Livre (1871). Como era abolicionista, Drummond, deu nome ao bairro em homenagem a Princesa Isabel e, às ruas, nomes relacionados à causa, como por exemplo, Boulevard 28 de Setembro, data em que a Lei do Ventre Livre foi sancionada. O meio de transporte era o bonde puxado por animais, que ligava Vila ao centro e foi muito importante para o crescimento do bairro. Nessa época, em Vila Isabel, foi construído o primeiro Jardim Zoológico do Brasil que, dirigido pelo mesmo senhor, foi palco da criação do popular Jogo do Bicho.
Algumas décadas depois, quando meus avos eram jovens, o bairro não era mais freqüentado por nobres, os bondes eram elétricos, o leite vinha na porta e o padeiro também. A manteiga era comprada fresquinha, era só esperar ficar pronta. No Morro dos Macacos tinha gente pobre, mas não tinha bandidos. Podia-se andar pelas ruas do bairro de madrugada sem ouvir nada além de conversa fiada e risadas, quando época de carnaval, ou o silêncio de quem respeita o vizinho que está descansando. Eles tiveram a sorte de freqüentar os familiares bailes de carnaval e dançar até de madrugada as marchinhas da época na Associação Atlética Vila Isabel. Quando crianças, ouviram as músicas de Noel (1910-1937) fresquinhas no rádio, relatando o cotidiano do bairro. Viram as ruas ganharem as famosas partituras de MPB, como Cidade Maravilhosa e Abre Alas, em pedras portuguesas (1965).

Ouvindo-os cantar e contar estórias, sinto saudade de uma época que não vivi.

Eu sou nascida e criada no mesmo bairro, que fora imperial, nobre, abolicionista, bamba, mas hoje virou manchete do jornal por ser o número 1 em roubo de carros, por ser violento, por fazer muitas vítimas na guerra do tráfico. Tive a oportunidade de ouvir os apitos da antiga fábrica Confiança, mas hoje o que mais se ouve é o barulho perturbador dos tiroteios. Vi as pessoas perderem a rua que moravam para o tráfico e a violência, pois foi o que restou da Rua Senador Nabuco e redondezas e do Morro dos Macacos. Vi, pela manhã, meu avô me mostrar, ao invés do leite e do pão, balas de fuzil perdidas e caídas na porta da casa dele. Eles deixaram a região, antes que fosse impossível saírem intactos.

É uma pena!

Ainda assim, paro e admiro as coisas que mais gosto em Vila: a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, que tira o fôlego de tão bonita, a pequena Igreja de Santo Antonio no alto do morro, o Shopping Iguatemi, a antiga Fábrica Confiança, hoje um supermercado que, infelizmente, não mais toca os 3 apitos cantados por Noel. E intriga-me saber que estão em clausura as freiras do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, que da Praça Barão de Drummond, se vê apenas a grande e imponente fachada do casarão, mas de cima, vê-se que é ainda maior, enorme, e sempre com todas as janelas fechadas.
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