sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Notícias de Uma Guerra Particular

Notícias de Uma Guerra Particular (1999) é um documentário de João Moreira Salles que, através de entrevistas realizadas durante os anos de 97 e 98, retrata o cotidiano dos traficantes, dos policiais e dos moradores da favela.

Mesmo sendo de 11 anos atrás, o filme é atual e surpreende pela quantidade de informações sobre realidades tão diferentes. Mundos difíceis de imaginar estando do lado de fora.

Informações como o relato do traficante Adriano contando quantas vezes foi preso e fugiu e seu deboche quando lhe perguntam se ele compra armas da polícia: “Não somos nós que vendemos para eles, né?”.

Toda a entrevista com Hélio Luz, então chefe da polícia civil, é interessante. Com muita sobriedade e sempre direto, ele diz que talvez a sociedade não esteja preparada para uma polícia não corrupta, pois esta prenderia os maconheiros do posto 9 em Ipanema e entraria nas casas da classe A para autuar todo mundo que tivesse usando drogas entre tantas outras coisas. Hélio tem razão, a sociedade se aproveita de todo o lixo da corrupção.

Em um depoimento Adão, morador, e sua família contam como a comunidade se beneficiou com o armamento pesado dos traficantes, pois antes a polícia invadia as casas e roubava os pertences deles, mas com o tráfico armado os policiais passaram a ter medo e a entrar com respeito, esse é o tipo de coisa que eu jamais poderia imaginar. Eles também dizem que a nova geração de bandidos é formada por suicidas, pessoas que cometem qualquer atrocidade, pois não tem medo de morrer.

Rodrigo Pimentel, na época ainda do BOPE, fala sobre como surgiu e o dia-a-dia desta polícia especializada e, como esses policiais arriscam a vida para, traduzindo, dar murro em ponta de faca, afinal como disse Adriano, o traficante, os bandidos podem ser presos, mas fogem sempre. É também de Rodrigo a frase que usei no post anterior sobre ser a polícia o único braço do governo que sobe o morro e enquanto isso continuar acontecendo, nada vai mudar.

O filme ainda conta com a participação de Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, que fala sobre a evolução das drogas no Rio e José Carlos Gregório, o Gordo, que cumpriu pena no desativado presídio de Ilha Grande e conta como surgiu o Comando Vermelho.

Documentário nota 10. Nenhum carioca deveria deixar de assistir. É uma denúncia espetacular e esclarecedora.

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